Gun, Glory, Sad Ending

Inês Borges
2 min readNov 17, 2021

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um guerreiro aliado que me acompanha diz constantemente que sou uma mulher egoísta e egocêntrica, que meus sentimentos são rasos e que não nutro amor por ninguém. ele escolhe dizer isso principalmente na hora do almoço que é o momento perfeito para alfinetações, dado a circunstância de que é a parte do dia em que não tenho disposição pra manter grandes diálogos, tampouco dou importância a perspectiva alheia.

na hora de dormir, entretanto, dou longos suspiros, tiro o meu uniforme de guerra, deixo de ser um cavaleiro para me tornar apenas uma mulher comum.

quando tomo banho percebo os machucados em meu corpo. um corte fundo no peito, e algumas cicatrizes nas coxas. Eles disseram que essa era a única recompensa das minhas escolhas: “é o que se ganha por não querer construir raízes quando teve a oportunidade”. mas fora esses momentos, quase nunca penso sobre isso. Não me olhar no espelho me faz esquecer de quem eu sou, e isso muitas vezes é bom.

andei por muitos caminhos ao longo desses anos, você deve imaginar que encontrei muitos guerreiros, muitos aliados, e muitos traidores, mas dentre todos, minha memória foi a minha maior companheira, e é ela quem me faz lembrar de quando era você o único farol diante dos meus olhos. um dos primeiros a me estender a mão e querer cruzar o longo caminho comigo. quando penso nisso me sinto grata e percebo que sempre nutrirei uma especie de cumplicidade por esse guerreiro em especifico, e mesmo que agora não possa me ver com os seus próprios olhos, tento idealizar que talvez você não me ache tão ruim assim, tão egoísta e tão rasa. Tomei as decisões que julgava serem as melhores levando em consideração quem eu buscava me tornar, mas ainda assim guardo comigo a certeza de que a minha melhor versão é sempre quando ninguém consegue me ver.

abraços saudosista.

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Inês Borges

jogando meu corpo no mundo enquanto escrevo sobre as cenas que aparecem na minha cabeça e existo nesse Brasil estranho